Sobre o Apóstolo Tiago, razão maior da peregrinação a Compostela, encontrei este texto excelente que informa tudo que precisamos saber a respeito do tema. 
Nota: Pelo menos as fotos são da minha peregrinação em 2010.
Estátua de Santiago em Villafranca del Bierzo
Tiago, chamado o Maior,     filho de Zebedeu e irmão de João, que os Evangelhos e os Atos     dos Apóstolos citam em segundo lugar, depois de Pedro, ou em     terceiro, depois de André ou João, está presente aos     principais milagres de Jesus, à Sua transfiguração no     monte Tabor e à Sua agonia no horto do Getsêmani, na     vigília da Paixão. De caráter impetuoso, ele e seu     irmão recebem do próprio Jesus o apelido Boanergéw     (filhos do trovão). Foi o primeiro dos apóstolos a     sofrer o martírio, em Jerusalém, numa data que deve estar     entre os anos 42 e 44; a notícia é dada sinteticamente por     Lucas nos Atos dos Apóstolos: “Nessa mesma ocasião o     rei Herodes começou a tomar medidas visando a maltratar alguns     membros da Igreja. Assim, mandou matar à espada Tiago, irmão     de João” (At 12, 1-2). Esse Herodes é Herodes Agripa I, sobrinho do     tetrarca Herodes Antipas, o Grande, e amigo de Calígula, pelo qual     é enviado à Palestina com o título de rei, ali     governando de 41 a 44, ano de sua morte. Como acrescenta Clemente     Alexandrino (citado por Eusébio de Cesareia, História eclesiástica, II,     9, 2-3), Tiago morreu decapitado depois de ter convertido seu acusador:     “Desse Tiago, Clemente, no sétimo livro das Hipotiposes, cita um detalhe digno de     nota, tal como o recebeu da tradição de seus predecessores, e     diz que aquele que o havia conduzido ao tribunal ficou tão comovido     ao vê-lo dar testemunho, que confessou-se também     cristão”. Não há notícias da atividade     missionária de Tiago entre o dia da Ascensão de Jesus e o do     martírio; ela se desenvolveu provavelmente entre a Judeia e a     Samaria, embora uma tradição fale de uma viagem sua à     Espanha, para onde mais tarde serão levados, segundo outra     tradição, seus restos mortais. Essas duas     tradições são completamente independentes uma da     outra. 
A tradição do apostolado de Tiago na     Espanha aparece pela primeira vez na versão latina do texto     bizantino do Breviarium Apostolorum. Essa versão remonta ao século VII e foi     composta fora da Espanha: a frase sobre a pregação de Tiago     na Espanha é um acréscimo do tradutor que não aparece     no texto grego original. É essa versão que alimenta Isidoro     de Sevilha (Do nascimento e da morte dos Padres, 71), ainda no século VII, mas a passagem que     encontramos na obra de Isidoro também é uma     interpolação, talvez do final do século VIII, e     remete, portanto, a alguém que reelaborou seu texto. Outros textos,     até mesmo espanhóis, do século X ao século     XIII, rejeitam a tradição da pregação de Tiago     na Espanha, que, no entanto, ganhará pé no século     seguinte, até ser inserida no Martirológio Romano de 1586     pelo cardeal Baronio, mas para ser mais tarde, por ele mesmo, rejeitada. 
Diferente e muito mais sólida, porém,     é a tradição relativa à presença do     corpo de Tiago na Espanha. Apesar da existência de muitas e     discordantes tradições que, confundindo-o às vezes com     o homônimo apóstolo Tiago Menor, dizem que suas     relíquias se encontram em diversos lugares da Europa (em Roma, por     exemplo, é preservado um braço considerado de Tiago na igreja     de São Crisógono, no Trastevere, dentro do altar central, em     que estão também as relíquias de parte do crânio     e do corpo de São Crisógono), a tradição     espanhola é a que prevalece sem sombra de dúvida. 
Não sabemos quando, nem por obra de quem,
Não sabemos quando, nem por obra de quem,
as relíquias do     apóstolo teriam chegado à 
Espanha, até a extremidade     norte- ocidental da península, a Galícia, a um lugar chamado     Compostela. O nome do lugar, que uma etimologia recorrente, ligada à     narração dessa descoberta, gostaria que derivasse de 
campus stellae, deve,     porém, ser entendido provavelmente como um derivado da     expressão compostum tellus, ou seja, necrópole. Segundo a     tradição, o sepulcro que contém os despojos de Tiago     teria sido descoberto no tempo de Carlos Magno, entre 812 e 814, por um     anacoreta de nome Pelágio, depois de uma visão luminosa. O     bispo Teodomiro de Iria Flávia, ao chegar ao lugar e abrir o     sepulcro, teria encontrado dentro dele os restos do apóstolo. A     pesquisa histórica estabeleceu que a descoberta do túmulo e     sua identificação como o de Tiago não derivam da     sugestão da tradição de sua suposta     pregação na Espanha; como já dissemos, são duas     tradições completamente independentes, que, em alguns textos     que citam as duas, chegam até a ser mencionadas como em     antítese. 
O primeiro texto que cita o sepulcro na Galícia é o Martirológio de Floro (808-838), na página dedicada ao dia 25 de julho, e que é retomado à letra pelo Martirológio de Adônis (850-860); são do século X os primeiros textos que narram a trasladação do corpo de Tiago, logo depois do martírio, de Jerusalém para a Espanha, ao passo que a descrição da descoberta do sepulcro e sua atribuição cronológica precisa ao tempo do bispo Teodomiro de Iria Flávia e do rei Afonso II, o Católico ou o Casto (portanto, como dissemos, entre 812 e 814) é encontrada ainda mais tarde, num documento de 1077, e depois em textos do final do século XI e do início do XII.
 
O primeiro texto que cita o sepulcro na Galícia é o Martirológio de Floro (808-838), na página dedicada ao dia 25 de julho, e que é retomado à letra pelo Martirológio de Adônis (850-860); são do século X os primeiros textos que narram a trasladação do corpo de Tiago, logo depois do martírio, de Jerusalém para a Espanha, ao passo que a descrição da descoberta do sepulcro e sua atribuição cronológica precisa ao tempo do bispo Teodomiro de Iria Flávia e do rei Afonso II, o Católico ou o Casto (portanto, como dissemos, entre 812 e 814) é encontrada ainda mais tarde, num documento de 1077, e depois em textos do final do século XI e do início do XII.
Começa quase de imediato, e se mantém     firme até hoje, o costume da peregrinação ao sepulcro.     As fontes que citamos se referem ao túmulo usando uma     expressão corrompida de diferentes formas, mas geralmente     interpretada como in arcis marmoreis (alusão, portanto, a uma arca de     mármore). Sobre o sepulcro, Afonso II constrói uma primeira     igrejinha, ampliada e ornada em 899 por Afonso III, o Grande,     destruída em 997 (mas sem que o sepulcro seja tocado) e reedificada     pelo rei Vermudo. Por cima dessa igreja, em 1075, é iniciada a     construção da grandiosa basílica românica     dedicada a Tiago, concluída em 1128 e remanescente até hoje,     tendo recebido acréscimos até o século XIX. 
 
Se a tradição do encontro das     relíquias de Tiago, e em particular o relato mais tardio de sua     trasladação de Jerusalém, foram objeto de amplas     críticas no que diz respeito a seu valor histórico (podemos     citar como exemplo as críticas do abade Louis Duchesne), as     escavações arqueológicas junto ao túmulo     (1878-1879 e 1946-1959) confirmaram, por sua vez, o que as fontes mais     tardias afirmam em relação à descrição     do sepulcro. E o papa Leão XIII, com a bula Deus omnipotens, de 1º de novembro     de 1884, declarou solenemente a autenticidade das relíquias     conservadas em Santiago de Compostela.                                         Fonte : Revista Mensal 30 Dias - n° 12 - 2008 - Autor: Lorenzo Bianchi
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